segunda-feira, 23 de novembro de 2009
A DIETA DA HEGEMONIA
A apresentadora loira voluptuosa introduz os espectadores no mundo Tie-In de produtos dietéticos, que ditam a nova silhueta para o verão; o homem é um emaranhado de músculos e formas, enquanto a mulher, esguia (e também loira), ingere as cápsulas mágicas num ritmo tão frenético quanto ao da esteira de ginástica.
Seria cômico se não fosse real a lógica quase burlesca que os media nos insere. A Teoria da Comunicação atenta para as contradições da agulha hipodérmica e das teorias behavioristas. Concomitantemente um outro conceito se apresenta cruel à luz dos estudos de Antônio Gramsci: a hegemonia presente nos veículos de comunicação e nas mídias em geral. Por outro lado, a possibilidade contra-hegemônica.
Os outdoors brindam as magras loiras e os produtos by fulano de tal , o homem bem-sucedido acaba de adquirir o carro do ano num canal de TV por assinatura, na capa do jornal a classe política, dos partidos detentores de maior influência sobre os nanicos carentes, protagoniza escândalos nunca resolvidos. Os exemplos só ilustram o que hegemonicamente massacra as possibilidades de autonomia dos sujeitos e de construção de uma cidadania autônoma face ao Estado.
O poder que a mídia exerce sobre a formação e o comportamento dos indivíduos não pode ser negligenciado. Resta aos grupos sociais e as classes trabalhadoras, além de uma perspectiva marxista, a emergência de um pensamento contra-hegemônico a fim de oferecer paradigmas alternativos à produção verticalizada que a mídia nos oferece.
Assim seria possível vislumbrar um novo cenário midiático no qual sujeitos ativos e militantes da contra-hegemonia disseminariam conteúdos em favor das minorias ou pelo menos representariam interesses e proporiam assuntos nunca pautados – ou se agendados, maquiados – pela mídia hegemônica.
A solução não é fácil. Quiça existe. O fato é que alternativas precisam ser pensadas para que o percurso seja menos artificial. Sim. Novamente voltamos às montagens e às silhuetas loiras ávidas pela venda dos seus merchan's editoriais. A hegemonia, nesse prisma, apresenta-se de dieta das ideologias contrárias à sua. É a política diet, que tenta eliminar todas as formas de manifestações contra-hegemônicas.
Obviamente a hegemonia demarca território não apenas na construção midiática, mas, nesse meio, ela queima as minorias, o conhecimento e as possibilidades de cidadania como calorias que se vão na esteira do programa das oito. É o regime soft, mas que termina anoréxico, como previu Orwell em seu 1.984.
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